Todo fim de ano era a mesma coisa, tinha que se reunir com sua família. Afinal, era Natal e Natal se passa com a família... antigas convenções. Já imaginava o que a aguardava: cobranças, sermões, lição de moral e, às vezes, algumas discussões. Pensou na liberdade que sempre desejou e do motivo que a fez sair de casa. Mas precisava ir mesmo assim.
Ceia da noite de natal na casa da tia. Estavam todos lá: seus pais, irmãos, tios, primos, avós e alguns amigos. Inicialmente, se sentiu um pouco estranha. Depois de se afastar do convívio, era estranho estar de volta. Deu abraços tímidos em todos, contou as novidades de sua nova vida. Aos poucos, foi ficando mais à vontade, a conversa começou a fluir e não poderia ser diferente. Essas eram pessoas que conheceu por toda a sua vida, que a viram crescer. E, para sua surpresa, teve uma noite agradável.
No dia seguinte, almoço na casa dos pais. Não importa o que aconteça, uma coisa nunca muda: não há nada tão bom quanto a comida da nossa mãe. E esse almoço estava delicioso. Pensou na dieta que começara a fazer há um mês. Se sentiu culpada por alguns instantes. Mas, então, lembrou "É Natal". Todas as dietas quebradas no Natal são perdoadas. Sempre. Se divertiu muito ouvindo velhas histórias. Aquelas que no momento em que acontecem parecem desesperadoras mas que, passado o tempo, tornam-se as melhores piadas. Uma experiência excelente.
Decidiu ficar mais um dia, já que não tinha sido a experiência traumática que esperava. Próximo evento: almoço na casa dos irmãos. Não começou no horário combinado. Frango que demorou mais do que esperado pra assar, alguns convidados (muito) atrasados. Tudo dentro do normal. A comida estava surpreendentemente boa. Seu irmão não era um "ás" na cozinha então as expectativas não eram altas. Um pensamento passou pela sua dieta mas foi rapidamente suprimido. Após o almoço, hora dos jogos. Nova versão do "Jogo da Vida", com direito a cartão de crédito e tudo. Ainda lembrava da época que usava dinheiro de papel. Teve ótimos momentos rindo do que a "vida" reserva (marido, filhos, emprego, dívida, acidentes, ...). Pensou na sua vida e no que havia vivenciado nos últimos dias.
Lembrou, então, da parte agradável do encontro. Lembrou do amor que sentia por todos os seus familiares, apesar dos conflitos que tiveram ou viriam a ter, e do quão importantes eram para ela. Se sentiu imensamente feliz por ter passado o Natal e também a última sexta-feira do ano com eles e pela certeza de que ainda teria muitos anos de reunião familiar pela frente.
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